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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

SEXTA DE TEXTOS - Sávio Pinheiro

Roçado de Dentro, 28 de Janeiro de 2012

Gostaria de falar, neste momento, que estou totalmente satisfeito com a presença e a atenção de todos vocês. Mas não me sinto a vontade para tal afirmação. De dizer da enorme felicidade de ver a minha mãe e a minha família presentes neste evento cultural. Mas, infelizmente, não posso afirmar unanimemente tal verdade. De poder externar a minha sincera alegria em rever tantos amigos nesta comunidade. Mas, também, sinto-me impedido de fazê-lo. Afirmo estas palavras, de consciência tranquila, concretizando a tese, que está faltando aqui, neste recinto, alguém muito especial: a figura descontraída e humana de seu Chiquinho de Louso.

Eu o vejo em cada cor, em cada som, em cada cheiro, em cada gesto; pois foi ele, e embalado na saudade dele, que me fez iniciar um projeto, que culmina, hoje, no lançamento do livro da jornalista Beatriz Jucá Pinheiro, sua neta. Lembro da primeira entrevista que fiz com o saudoso mestre Tim, na calçada de sua casa, e de várias outras. Pedro Sousa, Antonito, Jairo Diniz e Zé Clementino, através de seus reatos, nos deram um rumo dentro de um tempo que já se havia ido. Iniciava-se, ali, a contextualização deste trabalho.

Unidos no Roçado – vidas entrelaçadas em saudade e samba. O título do livro quase que dispensa a sua leitura. Realmente, a matéria-prima deste livro-reportagem é a saudade, como também o é o engrandecimento desta escola. Sem os seus heróis, como cita a autora, estes rurícolas jamais teriam encontrado forças para a manutenção deste projeto de vida. Sem o pioneirismo daquele seleto grupo de 1963, talvez ainda hoje vivenciássemos o abismo rural/urbano e pobre/rico, bases do preconceito classista.

E foi seu Chiquinho de Louso que me pediu para registrar este grande feito, que me acompanhou em todas as entrevistas que fiz e que me cobrou até o derradeiro instante de vida a sua realização. A falta de tempo me impediu de realizar o seu sonho, mas a sorte colocou a minha filha Beatriz em interesse permanente por aquela história. E o sonho se realiza.

Hoje, somente saudade, realidade e emoção. Chorei ao ouvir o grande jornalista e professor Gilmar de Carvalho externar publicamente, que a partir deste trabalho começava a valorizar o livro-reportagem, que o tinha como não avaliativo em trabalhos de conclusão de curso. Ouvi o também jornalista e escritor Agostinho Gósson relatar que encontrou mais poesia nesta prosa, que em muitos poemas, e que a corajosa escritora tinha reinventado um estilo em inovar modelos literários existentes. Mais uma vez, vislumbrei o discurso do Coordenador de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará, professor Paulo Mamede, onde disse ter a autora, conseguido resgatar a importância do idoso à cena cotidiana. Como também, vi o seu orientador e professor Ronaldo Salgado externar, comovido, passagens elogiosas diante de numerosa plateia no lançamento de Fortaleza.

Após quase três anos de pesquisa, a menos de dois meses da apresentação do seu trabalho, ouvi, por telefone, um pedido angustiado da autora, dizendo-me que para transpor para o papel os capítulos deste livro, que já habitavam a sua mente, necessitava de conviver com os moradores do sítio Roçado de Dentro, por uma semana. Pensei... Endoidou de vez!

Após a leitura do livro é que compreendi a sua necessidade. Foram três anos formatando o corpo desta dignificante obra e sete dias preparando o espírito, pois “Unidos no Roçado” tem espírito. É este o seu grande referencial.

E é no nobre sentimento de respeito e saudade, que deixo uma mensagem reflexiva para os nossos heróis: Sei que alguns de vocês se acharam mais do que imaginavam nesta obra, como também o sei que outros se encontraram menos do que mereciam. Porém, tenham a certeza e a convicção que este livro não foi feito só de corpos, mas também de almas.

Muito Obrigado.

Discurso proferido por ocasião do lançamento do livro "UNIDOS NO ROÇADO - vidas entrelaçadas em saudade e samba" da jornalista Beatriz Jucá Pinheiro.

6 comentários:

  1. Sávio,

    Você é tudo,médico,poeta,jornalista e um bom pai e que o fruto da tua semente surgiu a BEATRZ pra cumprir um sonho do teu pai.Parabens.

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  2. é verdade, e o livro é uma obra-prima e esse texto também prima pela beleza estetica o sávio soube se expressar muito bem nesse discurso que nos emocionou

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  3. Parabens Dr. Savio.

    Fui testemunha do nascedouro desta maravilhosa escola. Nos idos de 1963, subia eu com alguns colegas ao encontro do primeiro desfile, encontramos um pouco antes do sitio Formiga um pequeno, seleto e animado grupo de pessoas, não mais de 20 talvez. A animação valia por 200, 300 ou mais pessoas.

    Lembro que a musica dizia assim:

    Oh pai, Oh pai eu vi fazer um pedido ao Senhor,
    Oh pai, oh pai porque seu filho ainda não casou!

    Carecia que a Dra Beatriz, neta de um daqueles que compunha o primeiro grupo, existisse para escrever um livro para o registro da historia.

    Parabens pelo pai e pela filha.

    Um grande abraço.

    Antonio Morais.

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  4. A jornalista se saiu muito bem com o livro, parabéns a Beatriz
    e ao pai por este texto, que mais parece um suplemento da relevante obra.
    Abraço aos dois escritores.

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  5. Zé Sávio, parabéns por todo esse sucesso de beatriz !!!

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  6. Dr. Sávio Pinheiro

    Não li o livro, mas certamente é uma obra prima, pois não se extrai nada do nada. Embora se tratar de uma obra escrita por alguém que já carrega no sangue a arte de lidar com a palavra o Sávio demostrou que conhece a obra alem do seu nascedouro. Aqui há uma bela junção de talentos, não poderia ser diferente, parabéns aos dois!

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