Corroído pela ferrugem de Aécio Neves, o PSDB não consegue colocar em pé uma candidatura ao governo de Minas Gerais. O instinto de sobrevivência empurra o tucanato mineiro para o papel de coadjuvante em coligações de viabilidade eleitoral duvidosa.
Numa de suas cogitações, os tucanos ensaiam o apoio a Dinis Pinheiro, um ex-presidente da Assembleia Legislativa de Minas que concorrerá a governador pelo PP. Noutra alternativa, a chapa seria encabeçada pelo deputado federal Rodrigo Pacheco, um filiado do PMDB que Rodrigo Maia, presidente da Câmara, tenta levar para o DEM.
Para quem estava habituado a ser protagonista, a situação do PSDB é desesperadora em Minas. Neto de Tancredo Neves, Aécio governou o Estado por oito anos. Elegeu o vice Antonio Anastasia como seu sucessor. Foi guindado ao Senado. Com 51 milhões de votos, raspou na trave na disputa presidencial de 2014. Hoje, é uma bola de ferro que seu partido arrasta.
Sujo, Aécio se esquiva de medir forças com o mal lavado governador petista Fernando Pimentel, provável candidato à reeleição. Em público, o grão-tucano diz que prefere renovar seu mandato de senador. Em privado, admite que talvez tenha que se contentar com uma candidatura à Câmara dos Deputados.
Outro tucano de plumagem vistosa, Antonio Anastasia, com mandato de senador até 2022, resiste à ideia de subir novamente no ringue estadual. Anastasia só está na política por causa de Aécio. E parece enxergar a disputa pelo governo mineiro como uma espécie de luta de boxe na qual ele entraria com a cara, apenas para apanhar no lugar do seu mentor.
No momento, Aécio dedica-se a conceder entrevistas a emissoras de rádio de cidades mineiras. Tenta restaurar o que sobrou de sua imagem pública. Sobre os grampos de Joesley Batista, costuma dizer: “Se cometi um erro – e admito que cometi—, foi o de usar um linguajar que não me é próprio em uma conversa privada.” Quer dizer: pilhado achacando o dono da JBS em R$ 2 milhões, Aécio acha que seu problema estava na meia dúzia de palavrões que pronunciou.
Quando é instado a dizer algo sobre a grana, Aécio repete o lero-lero segundo o qual “não tinha recursos para pagar os custos advocatícios” de sua defesa. E admite um segundo “erro”: “Aceitar o empréstimo de alguém que se dizia meu amigo.”
Aos que se animam a lembrar que não havia contrato de empréstimo e que o dinheiro circulou em mochilas, o entrevistado capricha na pose de vítima: “Foi o Joesley que fez questão de que fosse daquela forma, em dinheiro. Ele disse na gravação, ‘tem dinheiro das minhas lojas e eu vou te emprestar’, dinheiro privado. Por que insistiu que fosse daquela forma? Para criar a imagem, fazer a fotografia e vender isso para a Procuradoria como estímulo aos benefícios que eles tiveram. Foi um erro aceitar.”
É um equívoco atribuir a oxidação da Aécio apenas ao autogrampo da JBS. A corrosão havia começado com o seu contato com o governo radioativo de Michel Temer. De resto, derramou-se sobre ele a chuva ácida das delações da Odebrecht. Sobre o dinheiro recebido da empreiteira, Aécio costuma dizer que foi mero intermediário do PSDB, pois presidia o partido. Alega que a verba financiou campanhas, com a devida prestação de contas à Justiça Eleitoral.
Na falta de um pronunciamento definitivo do Supremo Tribunal Federal sobre os inquéritos criminais protagonizados por Aécio, o eleitor mineiro terá de decidir na urna se aceita correr o risco de fazer papel de bobo.
Como O Antagonista publicou na semana passada, para ter o apoio do MDB, Geraldo Alckmin vai ter um candidato sem cacife eleitoral ou candidato nenhum ao governo São Paulo pelo PSDB — tudo para ajudar Paulo Skaf, apoiado por Temer.
ResponderExcluirMas, como também publicamos, Alckmin tem outro candidato na manga: Márcio França, do PSB.
Andreza Matais disse que Temer está irritado com o apoio de Alckmin a França. O recado é de que essa atitude não combina com quem quer aliança nacional com o MDB, visando ao Planalto.
O Antagonista.