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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 11 de junho de 2018

I - ENTREVISTA DO TENENTE JOÃO BEZERRA AO GLOBO - POR “O GLOBO” – 26/06/1957.

CANGACEIROS TENTARAM FUGIR, QUANDO AS PRIMEIRAS CABEÇAS ROLARAM
Para “Restabelecer a Verdade Histórica”, o Coronel João Bezerra Descreve, Quase Vinte Anos Depois, Com Detalhes Impressionantes, a Carnificina Que Marcou o Fim de Lampião e Seu Bando Sinistro – “Suspense” em Plena Caatinga, Numa Madrugada Chuvosa de Outubro de 1938 – “O Degolamento Foi uma Medida Acertada e Não me Provocou Remorso”, Diz a “O GLOBO” o Oficial da Força Pública de Alagoas, hoje Reformado e Fazendeiro

MACEIÓ, junho (De Ivan Alves, enviado especial de O GLOBO) – Assegurando que o degolamento de Lampião foi “uma medida acertada” – pois, se não houvesse ocorrido, muita gente no sertão não acreditaria que ele tivesse sido eliminado – e que o célebre cangaceiro não era o “cabra” mais valente e o melhor estrategista do seu grupo, o coronel João Bezerra, que combateu, também, contra o Sr. Luiz Carlos Prestes e serviu sob as ordens do general Gois Monteiro e do então major Eduardo Gomes, encontrando-se, hoje, na reserva da Força Pública do Estado, acedeu em falar a este repórter, rompendo um silêncio de vários anos, sobre a chacina desenrolada, sob seu comando, há quase duas décadas, em Angicos, às margens do São Francisco.

O coronel João Bezerra, que conta atualmente 52 anos de idade e é um tranquilo fazendeiro no interior das Alagoas, nega, porém, tenha mandado decapitar o mais famoso chefe do cangaço, revelando ainda que pretende figurar, em breve, como ator, num filme do deputado Tenório Cavalcanti, em torno da vida e da morte do homem cuja série de crimes interrompeu numa manhã chuvosa de outubro de 1938, “para desafogo e alegria das caatingas nordestinas, que amanheciam e anoiteciam sob a alça de mira dos trabucos de Virgulino Ferreira”, como hoje relembra, friamente, ante a memória da sangueira celebrada em prosa e em verso, e em tom legendário, por todo o Brasil.

CAPITÃO, NÃO: CORONEL
Tipo clássico de caboclo, grosso e atarracado, cabelos e bigodes grisalhados pela ação do tempo e das lutas na caatinga, olhos brilhantes, mas sempre ressumbrando desconfiança, o dizimador do mais terrível conjunto de cangaceiros que já atuou no árido Nordeste avistou-se com a reportagem no saguão do principal hotel da capital alagoana. “É ao capitão João Bezerra que temos o prazer de nos dirigir?” – perquirimos. E o nosso interlocutor, erguendo-se da poltrona: “Não. É ao coronel João Bezerra”. Tentando contornar o equívoco, observamos: “Creio que seria dispensável dizer que seu nome é conhecido em todo o País”. E ele, fitando o repórter ainda sem muita identificação: “Parece que sim.”
Vencido o constrangimento inicial, provocado pelo engano relativo à patente, o coronel João Bezerra dispôs-se a falar fluentemente, sem peias. Mais adiante, chegaria a confidenciar ao major Ataíde, assistente-militar do Governador do Estado e coordenador da entrevista, que gostara do repórter, que se lhe afigurara “um bom cabra perguntador”, salientando, ademais, que demonstráramos grande confiança em sua narrativa.

SAUDADE DOS PÉS DE ÁRVORE
Perguntamos ao coronel João Bezerra como e onde vive, atualmente. E completamos: Sente saudades daqueles tempos árduos de militança na Força Pública estadual? O coronel João Bezerra prendeu no lábio um tênue sorriso que se insinuava e afirmou: Trago no peito a nostalgia da minha Polícia Militar e mais até dos pés de árvore, a cuja sombra eu descansava durante os dez anos que combati.
Contou-nos, a seguir, que se reformou há seis meses, no posto de coronel. Quando liquidou o bando de Lampião era um simples tenente, de 33 anos de idade, nascido em Afogado das Ingazeiras, município de Pernambuco, nos lindes desse Estado com a Paraíba. “A comuna divide-se na serra”, explicou melhor. Abeirando-se dos cinquenta anos, passou a se dedicar por completo à fazenda Aquidabã, de sua propriedade, localizada no distrito de Ibateguara, município de São José de Lajes, em Alagoas.

2 comentários:

  1. Serão uma duzia de postagens relatando entrevista do Tenente João Bezerra ao O Globo - Acompanhe e conheça um pouco da fase final do cangaço e do Lampião.

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  2. Excelente. Estou aguardando as próximas publicações. Um abraço fraterno.

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