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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 11 de junho de 2018

II - ENTREVISTA DO TENENTE JOÃO BEZERRA AO GLOBO - POR “O GLOBO” – 26/06/1957.

O já Coronel João Bezerra.

ONDE O ARADO SUBSTITUI A ESPINGARDA.
Na minha propriedade rural – informa o entrevistado, com indisfarçável orgulho – desenvolve-se uma apreciável criação de gado. Demais disso, planto café, cana de açúcar e cereais. Raramente, em consequência, venho à capital do Estado.
O repórter indaga se ele se enquadrou no novo regime. A resposta vem, sem titubeio: Integrei-me perfeitamente na qualidade de fazendeiro, após os meus trinta e quatro anos de farda.
E quando o repórter comenta que, assim, o arado está substituindo a espingarda, ele contravém, reticencioso: Mais ou menos...

ALGUMAS “BRIGUINHAS” EM 1930
Já mais à vontade com o jornalista, o coronel João Bezerra adianta que sua primeira filha se formou recentemente em comércio; outra está terminando o curso ginasial em São José de Lajes, enquanto o terceiro filho, de apenas seis anos de idade, ainda não se afastou da fazenda para estudar. E, reportando-se a um aspecto pouco vulgarizado de sua vida, acrescentou:
Fiz todas as campanhas contra o banditismo organizado e ofereci combate ao Sr. Luiz Carlos Prestes. Como sargento, em 1926, incorporei-me à 6ª Companhia de Alagoas. Em 1930, fiz excursão deste Estado ao Rio de Janeiro. Viajei três meses, enquanto durou aquela questão, a saber, as briguinhas que então surgiram no País.

RECORDANDO GÓIS E O BRIGADEIRO
O coronel João Bezerra acaricia gostosamente uma faca – e o fotógrafo opera a chapa. O entrevistado larga o instrumento e pede a repetição da fotografia. É atendido e agradece:
Agora, eu fiquei mais bonito. Retoma, então, o fio do relato:
Em 1932, participei da Revolução Constitucionalista de São Paulo. Estive sob o comando do general Pedro Aurélio de Gois Monteiro, de quem fui amigo e a quem sempre considerei um extraordinário tático. Fui aproveitado, outrossim, como chefe da tropa de vigilância no Campo de Aviação de Rezende, dirigido, inicialmente, pelo então capitão Dyott Fonte nele e, em seguida, pelo então major Eduardo Gomes. Servi, também, com o “Melo Maluco”.

PRIMEIROS ELOGIOS NAS FOLHAS
O vento ligeiro de Maceió – réplica nordestina do minuano dos pampas – arremessa-se com violência de encontro à janela, junto à qual se desenrolava a entrevista. Perguntamos ao coronel João Bezerra se o vento o estava importunando. E ele:
Deixa ficar, que não dá pra derrubar nenhum cabra de raça. O nosso entrevistado é homem de memória realmente excepcional: afiança que um graveto que tenha estalado sob sua bota nas longas andanças pelos sertões atormentados do Nordeste certamente será lembrado, caso se faça necessário. Voltando a discorrer sobre o movimento de 1932, acrescenta:
Ainda hoje, lamento tenha sido desmoronada uma tropa nossa em Bocaina, onde se travaram diversos combates machos. Os jornais referiram-se elogiosamente à minha atuação, por eu ter tomado a vanguarda da porfia.

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