O
quarto Príncipe dos Poetas Cearenses, Artur Eduardo Benevides, disse em
poema que, “em poesia, o que não for saudade é liturgia”. A data
religiosa e cívica que se vivencia neste sábado, une saudade e liturgia,
posto que todos temos alguém que já faleceu e de quem sentimos saudades
e que por ela celebramos, seja na esfera religiosa ou pessoal.
O Dia dos Fiéis Defuntos (defunctus - latim, aquele que cumpriu sua
missão), Dia de Finados ou Dia dos Mortos é celebrado na Igreja
Católica, no dia 2 de novembro, se constituindo data cívica pelo
feriado.
O costume de rezar pelos mortos, vem desde o século II, quando os
cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires. No
século V, a Igreja dedicou um dia do ano para se rezar por todos os
mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava. Consta
que no século XI, os Papas Silvestre II (1009), João XVII (1009) e Leão
IX (1015), determinaram a dedicação de um dia aos mortos. No século XIII
esse dia anual passa a ser comemorado em 2 de novembro, porque 1º de
novembro é a Festa de Todos os Santos.
Na América a mais destacada celebração é a do México, onde o Dia dos
Mortos tem origem indígena e começa no dia 31 de outubro. É tão próprio e
de tão grande alcance o Dia dos Mortos do México que a UNESCO o
declarou Patrimônio Imaterial da Humanidade.
Existem passagens bíblicas que mostram a oração pelos mortos Em Tobias
12,12, lemos “Quando tu e Sara fazíeis orações, era eu que apresentava
vossas súplicas diante da Glória do Senhor e as lia; eu fazia o mesmo
quando enterravas os mortos”; em II Macabeus 12,44-46: “De fato, se ele
não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria
supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerava que uma
belíssima recompensa está reservada para os que adormecem na piedade,
então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis por que ele mandou
oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de
que fossem absolvidos do seu pecado”; outros trechos do Velho Testamento
e do Novo Testamento têm inúmeras reflexões acerca. Lembremo-nos de que
Jesus orou por Lázaro e o ressuscitou e lembrou que Ele é o caminho, a
verdade e a vida. Paulo, apóstolo, afirma que “quer vivamos, quer
morramos, pertencemos ao Senhor”.
A nós ocidentais, ainda é muito difícil encarar a morte, a separação, o
adeus. Por isso iniciei essa coluna lembrando Artur Eduardo Benevides
sobre saudade e liturgia na poesia. Os orientais fazem festa para seus
mortos no rito de despedida. Lembro-me de Antonio Olinto contando sobre
essas tradições. Fica a saudade, mas, a tristeza não deve se fazer
presente, embora que nem sempre a controlemos.
Jesus Cristo, ao ressurgir dos mortos, deu-nos a certeza da
ressurreição. Um dia todos nós ressurgiremos e ingressaremos no local ao
qual nossas ações humanas na terra nos conduziram. Mas, ainda assim,
existe a misericórdia de Deus e ela é maior que tudo. Um dia, com
Cristo, diremos que a morte não existe.
Rezemos por nossos falecidos, exaltemos seus méritos, até choremos,
porque somos humanos, mas, lembremos de que a Vida continua, pois, quem
crê em Cristo, ainda que esteja morto, viverá!
Que a Luz Perpétua os ilumine!
(*) José Luís Lira é
advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do
Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito
Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina)
e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É
Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte
livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais
brasileiras.
Prezado Armando - A humanidade cada dia se distancia mais da solidariedade, do respeito e do amor ao ser humano. No dia de finados leva e oferece flores aos mortos, mais por remorso que por gratidão.
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