Em 2013, em palestra na Ordem dos Advogados do Brasil, falávamos sobre
os advogados santos, destacando o padroeiro dos advogados, Yves Hélory
de Kemartin, o Santo Ivo, que viveu entre os séculos XIII e XIV na
França, filho de nobres que, após estudar Direito, se tornou franciscano
e depois de morto, santificado, por suas brilhantes ações em vida em
prol da justiça e dos mais necessitados. Falava, então, dos candidatos
brasileiros à santidade que eu havia relacionado no meu livro “A Caminho
da Santidade”: Padre Dr. José Antônio de Maria Ibiapina (1806-1883),
sobralense, e o Dr. Franz de Castro Holzwarth (1942-1981), nascido no
Estado do Rio de Janeiro, mas, cuja causa corre na Diocese de São José
dos Campos (SP). Então, uma amiga me falou do advogado, professor e
promotor Marcelo Câmara, de Santa Catarina, falecido na quinta-feira
santa de 2008, em fama de santidade. Ao final da reunião, tínhamos uma
foto dele.
O tempo passou, até que em novembro de 2019, participando do VII
Encontro de Postulação – Autores das Causas dos Santos – sob a
responsabilidade do Dr. Paolo Vilotta, sentou-se ao meu lado, Guilherme
Ferla. Era da causa de beatificação de “Marcelinho”, estava com dois
sacerdotes. Um deles, o Pe. Vitor Feller, postulador. Ao ver o livro “No
caminho da santidade: a vida de Marcelo Câmara, um promotor de
Justiça”, de Maria Zoê Bellani Lyra Espíndola, abandonei minha habitual
timidez e pedi para ver o livro, com o qual fui presenteado.
Marcelo Henrique Câmara nasceu na véspera de São Pedro de 1979. Eu
tinha pouco mais de cinco anos. Foi batizado na memória litúrgica de
Santa Clara, 11 de agosto de 1979; no Brasil é o dia do advogado. Teve
uma infância e juventude comuns. Entrou para a faculdade de Direito no
mesmo semestre que eu entrei, só que em Santa Catarina e eu no Rio de
Janeiro. Fui me prendendo à leitura detalhada e complementada. Dedicado
aos estudos, num dos relatos, se vê a participação dele numa aula de
História do Direito. Noutro ponto, mostra-se sua admiração pelo Vasco,
também meu time e uma expressão me lembrou Jorge Luís Borges: “... se
pudesse, ele viveria feliz dentro da biblioteca”.
E Marcelo se enamorou de Deus. Depois de um Encontro no movimento
católico de Emaús. Aí sua santidade se revelou e eu me lembrei do colega
advogado que há tantos anos fora a Ars, França do século XIX, para ver a
pregação de São João Batista Maria Vianney e voltou à sua terra dizendo
ter “visto Deus num homem”. É assim o que os relatos colhidos por Zoê
Espíndola, sua colega de Faculdade, em síntese, dizem. Lembrei-me do
Apóstolo, “... já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl
2,20).
O francês Victor Hugo disse ao ser eleito para a Academia Francesa:
“Verdadeiramente imortais são os santos católicos que quase 2000 anos
depois de sua morte ainda recebem culto”. Marcelo viveu apenas 28 anos,
mas, penso que seu nome ultrapassará nossa Pátria e ele continuará a
levar Cristo, no testemunho de sua vida.
Neste domingo, 8, a Arquidiocese de Florianópolis fará a Abertura de
sua Causa de Beatificação e de Canonização, com relatos diversos que
apontam uma santidade genuína. E quem sabe teremos um santo que usou
paletó e gravata, com riso nos lábios e que foi exemplo de humildade e
ternura? Oremos!
(*) José Luís Lira
é advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do
Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito
Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina)
e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É
Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte
livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais
brasileiras.
No Brasil não há santidade no Direito. Não há uma lei definidora. Cada ministro tem a sua lei ou seja vontade. E, a sua vontade nunca é o interesse da justiça.
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