A cachoeira de Missão Velha
Localizada no Sítio Cachoeira, a 3km da cidade de Missão Velha, essa
cachoeira forma – na quadra das chuvas do início do ano – quedas d’água,
oriundas do Rio Salgado, com aproximadamente 12 metros de altura. No
chamado “inverno”, a cachoeira vira uma paisagem de grande beleza. Dizem
que ali se realizavam cerimônias religiosas feitas pelas populações
indígenas que habitavam aquele lugar.
A pouca distância da cachoeira, ainda podem ser vistos os restos de
casas de pedra, da primitiva colonização do Cariri, iniciada a partir do
século XVII. O Geopark Araripe transformou a Cachoeira de Missão Velha
num dos seus “geotopes”. A rocha sedimentar desse geossítio é o
arenito da formação Cariri, com aproximadamente 420 milhões de anos
(Período Siluriano).
O Boqueirão de Lavras da Mangabeira
O Boqueirão do Rio Salgado (mais conhecido como Boqueirão de Lavras)
é formado por uma pequena chapada – cortada ao meio – localizada a
cinco quilômetros da cidade de Lavras da Mangabeira. Nesse Boqueirão –
na parte alta – localiza-se uma gruta (a Gruta do Boqueirão), que é é aureolada por lendas e estórias. Cientificamente, sabe-se que o Boqueirão de Lavras foi formado, há milhares de anos, devido à erosão provocada pela ação das águas do Rio Salgado.
Assim foi se formando uma fenda por onde corre – na quadra das chuvas – as águas do rio, tendo por moldura uma espécie de canyon
de rara beleza. O Boqueirão de Lavras há muito já deveria ter sido
transformado numa Área de Proteção Ambiental (APA). A exemplo do que foi
feito, em 1997, com a Chapada do Araripe.
Tropeiros de Várzea Alegre
O pesquisador Antônio Gonçalo de Sousa é autor do livro: “Tropeirismo nosso”. Tropeiro (também chamado almocreve)
era o condutor de tropas de animais de carga, uma figura típica no
Cariri, até o início do século passado. O tropeiro desapareceu com a
chegada do trem e dos caminhões a nossa região.
O livro “Tropeirismo nosso” resgata a vida de Antônio Gonçalo Araripe,
(avô do autor) nascido em Várzea Alegre, em 1896. A vida de Antônio
Gonçalo Araripe foi toda dedicada ao tropeirismo, sendo ele pioneiro
nessa profissão naquele município sul-cearense.
Durante quase toda a primeira metade do século XX, Antônio Gonçalo Araripe vasculhou
a região Sul do Ceará, com sua tropa de burros. Partindo de Várzea
Alegre, transportava mercadorias num circuito que ia de Iguatu a
Crato–Juazeiro; e de Lavras da Mangabeira a Farias Brito. Com seu
honrado trabalho, Antônio Gonçalo Araripe conseguiu até adquirir até uma
nesga de terra para moradia e cultivo. Proporcionou le a educação aos
filhos e chegou a comprar uma casinha – na cidade de Várzea Alegre –
para acompanhar as festas de São Raimundo Nonato, o santo-padroeiro daquela localidade.
Política de boa vizinhança?
Crato possui 22 ruas que têm os nomes de todos os municípios do Cariri
(mais precisamente os criados até a década 1970). Sua mais longa avenida
foi denominada de “Padre Cícero” (ela começa no bairro São
Miguel e vai até a divisa Crato-Juazeiro, no bairro São José, com os
CEPs 63122–440 a 445). Tem mais: os vereadores de Crato denominaram –
oficialmente – as seguintes ruas: No centro: Rua Juazeiro do Norte (CEP 63100-120); No bairro Alto da Penha: Rua Monsenhor Murilo de Sá Barreto (CEP 63133-800), Rua Coelho Alves (CEP 63113-320) e Rua Mons. Lima (63100-510). Todos essas pessoas residiram e tiveram influência na cidade de Juazeiro do Norte.
As viagens entre Fortaleza e o Cariri há 200 anos
Hoje uma pessoa entra num avião, em Juazeiro do Norte, e depois de 45
minutos desembarca em Fortaleza. Duzentos anos atrás eram precárias as
comunicações na Província do Ceará.
Cento e dez léguas (cerca de 660 km) separavam Fortaleza, a capital da
Província, localizada às margens do Oceano Atlântico, das pequenas vilas
então existentes na região do Cariri, situadas nas faldas da Chapada do
Araripe, já na fronteira com Pernambuco.
Chegavam a durar cerca de trinta dias uma viagem entre o litoral e o
Cariri cearense, naquele recuado tempo. Esses deslocamentos eram feitos
utilizando-se as precárias estradas vicinais constituídas, na maioria
das vezes, de simples veredas. Para aquelas viagens utilizavam-se
animais. Nos primeiros meses do ano, temporada das chuvas – devido aos
lamaçais e aos riachos a serem transpostos – aqueles deslocamentos
poderiam demorar ainda mais. Não raro, alguns trechos das veredas
ficavam, dias, intransitáveis.
Também nos meses da estiagem os obstáculos eram grandes! O sol
escaldante, o forte calor e as estradas poeirentas constituíam um
cenário monótono, durante os longos e cansativos dias das viagens, em
meio à paisagem cinzenta da vegetação seca da caatinga. Até chegar à
paisagem caririense com seus verdes canaviais e o cheiro doce dos
engenhos de rapadura, espalhando-se pelos ares...
História: o primeiro jornal do Cariri
Jornalista João Brígido
O jornal chamava-se “O Araripe”.
Circulou – na Vila Real do Crato – pela primeira vez em 1855. Seu
criador e editor: João Brígido dos Santos, nascido na Vila de São João
Barra, na província (hoje estado) do Rio de Janeiro, em 3 de dezembro de
1829. Quando publicou a primeira vez “O Araripe”, João Brígido tinha
apenas 26 anos. A vida dele é uma epopeia que merece ser lembrada.
Quando era ainda menino, um dia salvou de um afogamento um colega seu,
que tomava banho no rio da cidade de Quixeramobim. Nome do menino
salvo: Antônio Conselheiro. Este, depois seria o líder messiânico de Canudos, imortalizado no livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, e figura de destaque na história do Brasil.
João Brígido dos Santos morou em Crato por 10 anos. Além de jornalista foi político e historiador. Um livro dele (“Apontamentos para a História do Cariri”,
editado em 1861, na cidade de Recife), é – ainda hoje – importante
fonte de pesquisa. João Brígido transferiu-se, posteriormente, para a
cidade de Fortaleza. Lá criou o jornal “Unitário”e foi um dos mais destacados intelectuais da capital cearense. É autor dos livros: “Gênese do Ceará” e “Ceará, Homens e Fatos (1919), dentre outros.
Memória: os 250 anos da 2ª paróquia mais antiga do Cariri
Criada em 4 de janeiro de 1768, pelo 8º Bispo de Pernambuco – Dom Francisco Xavier Aranha – a Paróquia de Nossa Senhora da Penha,
de Crato, foi desmembrada da Paróquia de São José, de Missão Velha.
Naquele tempo o Ceará pertencia à Diocese de Olinda. Originou-se a
matriz cratense de uma humilde capelinha de taipa, coberta de palha,
construída – por volta de 1740 – pelo capuchinho italiano, Frei Carlos Maria de Ferrara. Este frade foi o fundador do aldeamento da Missão do Miranda,
núcleo inicial da atual cidade de Crato. A “missão” foi criada para
abrigar e prestar assistência religiosa às populações indígenas que
viviam espalhadas ao Norte da Chapada do Araripe.
Em janeiro de 1745, Frei Carlos Maria de Ferrara colocou na igrejinha
uma placa de pedra, oficializando a consagração que fizera do pequeno
templo. Este, dedicado “A Deus Uno e Trino e, de modo especial, a Nossa Senhora da Penha e, em segundo plano, a São Fidelis de Sigmaringa”. Em 2014, por decreto do Bispo Diocesano, Dom Fernando Panico, São Fidelis de Sigmaringa foi oficializado como “Co-padroeiro de Crato”.
Os 250 anos de criação da Paróquia de Nossa Senhora da Penha
será o tema da festa da Rainha e Padroeira dos cratenses, que tem
inicio no próximo dia 22 de agosto e termina em 1º de setembro.
Já disse e repito. Uma postagem rica de cultura, conhecimentos históricos e informações. De parabéns os leitores e o autor.
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