Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Programa do general é bem melhor que o de Camilo -- por Érico Firmo (*)

General Guilherme Theophilo
Fonte: jornal O POVO, 15-08-2018.

Não, não tem nada demais nas propostas de governo registradas pelo candidato do PSDB a governador do Ceará. Há, inclusive, fragilidades bem grandes. Porém, independentemente de se concordar ou não com as ideias, a plataforma do general Guilherme Theophilo destoa do que é regra nesse tipo de documento. É objetivo, define metas específicas e aponta como pretende alcançar.

Claro, é muito pouco. O mínimo que se espera e exige. Mas, os outros não costumam atender nem a isso. A partir daí, pode-se e se deve discutir se as ideias são boas ou não. E, também, se o caminho apontado levará ao objetivo pretendido. No caso das propostas do general, o como fazer é raso em muitos pontos. Rasteiro até. O mérito é a simplicidade. Por exemplo, a meta 1: "Reduzir em 50% dos homicídios até o final do mandato". É destacada a situação atual, com 5.134 homicídios em 2017. Ou seja, pretende chegar a 2022 com 2.567. Por que é importante? Para a população fiscalizar e cobrar.

 O programa diz como pretende fazer isso, de forma bem sucinta. Fala em dobrar o número de delegacias 24 horas, de aumentar em 50% o contingente da Polícia Civil, impor trabalho nos presídios, criar programa de disk denúncias premiadas. Vai resolver? Cabe discutir. Não soa suficiente para meta tão ambiciosa. Até porque tem bobagens e generalidades. Do tipo: "Transformar o Ceará em uma ilha de segurança". Hein? O que exatamente significa? Como será feito? Cai no pecado da maioria: é vago e abstrato.

 Outra meta: "Acabar com as filas nos corredores dos hospitais em até 18 meses". No "como fazer", fala-se em compra de vagas na rede filantrópica e privada, entre outras ideias. Nada soa muito diferente do que já se faz. Mesmo com toda limitação e deficiências, coloca a discussão em outro patamar. O que isso tem de bom? Mais fácil entender comparando com Camilo Santana (PT).

Platitudes de Camilo

O programa de Camilo traz diretrizes. Um monte de generalidades. Em 16 páginas, não há um número sequer. Um. Nenhuma meta objetiva, um prazo. Tem coisas assim: "Estruturação de uma governança participativa". E pronto. Nenhuma palavra a mais sobre o que vem a ser isso e como será feito. Ou ainda: "Uso sustentável dos recursos naturais como ativos econômicos". E mais: "Inovação voltada para promoção de uma relação harmônica entre meio ambiente e sociedade". E também: "Promoção da consciência cidadã e da ética para a convivência interpessoal".

 Na segurança, maior debate do Estado hoje, olha o nível de proposta: "Avanços no fortalecimento institucional dos órgãos de Segurança Pública". Sério, isso significa que o governador vai fazer o quê? Tem também: "Priorização das ações de combate ao crime organizado em território estadual". Ué, já não era assim? O programa de Camilo não deve se restringir a isso. Na eleição passada, depois das diretrizes, foi elaborado um documento final. Era bem mais consistente, embora não muito mais específico quanto a metas, compromissos claros e prazos. Sabe quando foi lançado? Após a eleição. Isso mesmo. Camilo já estava eleito quando apresentou programa de governo. O eleitor só soube depois de grande parte da plataforma. Caso descobrisse discordar do que estava ali, seria tarde demais.

Para além da propaganda

Sabe qual o problema? Programa de governo é tratado como peça de propaganda. Quando deve ser, sobretudo, compromisso com o eleitor. Por isso, deve ter prazos e metas quantificáveis. Que possam ser fiscalizados e cobrados. Isso que os candidatos querem evitar. O general pagará preço pelos compromissos. A viabilidade de algumas metas certamente será explorada em debates. Jogo jogado. Tem de explicar mesmo. Se não, melhor nem ter programa. Como disse, não significa que não há problemas no programa do general. Citei alguns e aprofundo o maior amanhã.
(*) Érico Firmo é jornalista de O POVO

Um comentário:

  1. Eu não tenho duvidas que seja. Esse conluio Camilo/Eunicio e os Ferreira Gomes pode ser bom para eles. Eu desconfio quando um grupo de políticos se reunem pensando em vencer a eleição e, não em governar.

    ResponderExcluir