A época em que os coronéis da Guarda Nacional mandavam e desmandavam no Cariri
Segundo o historiador Irineu Pinheiro (“Efemérides do Cariri”, página 165), somente em 21 de dezembro de 1889 (1 mês e 6 dias depois do golpe militar que impôs a República no Brasil) a Câmara Municipal de Crato realizou a sessão para aderir a nova forma de governo implantada em 15 de novembro daquele ano.
Donde se conclui que as notícias sobre a "proclamação" da República
chegaram ao Cariri num clima de total indiferença por parte da
população. Não existiam – em Crato e demais cidades caririenses – simpatizantes do movimento republicano.
Em Fortaleza, a capital do Ceará, a notícia do golpe militar chegou
pelo telegrafo já que havia esse tipo de comunicação entre Fortaleza e o
Rio de Janeiro. Já as comunicações entre o Cariri e a capital da
Província eram precárias. Não havia, entre as duas cidades, linhas
telegráficas. Gastava-se um mês nas viagens entre Fortaleza e Crato,
esta última, àquela época, a cidade mais importante do Cariri.
O “coronelismo” foi um fenômeno que cresceu muito com a chamada “Proclamação da República”. Durante a Primeira República (1889-1930), o coronelismo acentuou-se como poder local nas cidades do interior nordestino. Os coronéis passaram a exercer o chamado “mandonismo político”.
Crato não ficou imune ao fenômeno. Com a derrubada da monarquia – e a
expulsão do Imperador Dom Pedro II e sua família, – o brasileiro comum
não tinha mais a quem recorrer (com a mesma confiança e imparcialidade
existentes nos tempos imperiais) a um poder isento para resolver seus
problemas.
Como surgiu a famosa “Lei de Chico Brito”
Cel.Chico de Brito
Entre
1896-1912 – por 16 anos – governou o Ceará a oligarquia dos Accioly.
Vem de longe, como se vê, a tradição de “famílias importantes” dominarem
o poder no Ceará. Era “Intendente” de Crato, àquela época, o Cel.
Antônio Luiz Alves Pequeno, fiel ao clã Accioly. “Intendente” era como
se chamava (no início dos conturbados tempos republicanos), o atual
cargo de “Prefeito Municipal”. Derrubado o Governo Accioly, assumiu o
Coronel Franco Rabelo. Este, nomeou como novo intendente de Crato seu
aliado, o Coronel Francisco José de Brito.
O antigo intendente Antônio Luiz Alves Pequeno não quis entregar o
cargo. O Coronel Francisco José de Brito, inteligente e astuto, foi ao
Lameiro e trouxe até a Praça da Sé (onde ficava o prédio da Intendência)
um grupo de amigos. Encontrando a Intendência fechada, arrombou a porta
e sentou-se na cadeira do Intendente anterior. Nisto apareceu o Dr.
Irineu Pinheiro, sobrinho do Cel. Antônio Luiz. Irineu Pinheiro (que
depois seria um dos maiores historiadores do Cariri) ficou revoltado e
perguntou:
– “Mas que lei é essa na qual o Sr. se arrima para assumir a Intendência”?
O Cel. Chico de Brito, tranquilamente, sentenciou:
– “É a “Lei de Chico de Brito”! Esta lei eu mesmo fiz. E estamos conversados”.
Potengi: o maior polo de ferreiros do Cariri
Potengi, pequena cidade do Sul-cearense, possui o maior polo ferreiro
do Cariri. Ali se fabrica facas, foices e outros artefatos de ferro,
cuja produção é vendida no comércio local e exportada para outros
municípios do Ceará, Piauí e Maranhão. Potengi é conhecida como “a cidade que não dorme”.
Isso devido aos produtos da metalurgia, serem moldados em meio a grande
calor, quando o ferro é aquecido – em uma forja que se mantém quente
graças a um fole operado a mão – até ficar vermelho-brilhante. A seguir,
o ferreiro vai batendo e dando forma aos objetos.
Em Potengi, os ferreiros sempre começam a trabalhar à meia-noite quando
a temperatura é mais amena. Manualmente, o ferro é modulado sobre as
bigornas E nessa hora começam as batidas dos martelos sobre o ferro,
ecoando pela pequena cidade. Chega a parecer uma sinfonia metálica, esse
martelar! Batidas que só terminam com o nascer do sol, quando os
ferreiros vão dormir e Potengi inicia novo dia de atividade normal.
Memória: Um caririense ilustre
Antônio Martins Filho cognominado “O Reitor dos Reitores”,
nasceu em 22 de dezembro de 1904, no sítio Santa Teresa (Missão Velha),
mas foi registrado como tendo vindo ao mundo em Crato. Faleceu em
Fortaleza, em 20 de dezembro de 2002, dois dias antes de completar 98
anos.
Era de família pobre e exerceu empregos muito humildes como trabalhador
braçal na construção da estrada de ferro Fortaleza–Crato. Mas já aos 18
anos foi um dos fundadores do Academia dos Infantes de Crato (1922).
Nasceu para ser grande. Membro de Academias, Institutos, Conselhos de
Educação (estaduais e federal), “Doutor Honoris Causa” de dezenas de
universidades brasileiras e estrangeiras.
Escreveu 30 livros sobre Ciências Jurídicas, História, Educação,
Literatura e Economia. Foi agraciado com 12 condecorações de
instituições brasileiras e do exterior. No entanto, passou à história
como o “Criador de Universidades”.
Para ficar apenas no Ceará, ele foi fundador, e primeiro reitor, tanto
da Universidade Federal do Ceará, como da Universidade Regional do
Cariri–URCA. Fundou também a Universidade Estadual do Ceará. Não existe
nenhuma rua de Crato com o nome do Dr. Martins Filho. Mas existem, nesta
cidade, duas ruas: a Rua Lagarta Pintada (no bairro Lameiro, CEP 63112-125) e a Rua Soldadinho do Araripe (no
bairro Vilalta, CEP 63119-085). Mesmo com o crescimento da cidade, os
vereadores fingem não ter mais gente ilustre para homenagear como
patrono das ruas de Crato.
Embrapa investe no pequi
A beleza da flor do pequizeiro
Com o título acima, transcrevo nota publicada na coluna de Egídio Serpa (“Diário do Nordeste”, 09-08-2018):
“Fruta
muito consumida pelos cearenses da região do Cariri, o pequi nunca foi
tratado com a atenção que merece, pelo menos até agora. A Embrapa
Agroindustrial, com sede em Fortaleza, anuncia que dará apoio a um
projeto de pequenos produtores que querem agregar valor ao pequi,
beneficiando-o pela via industrial, usando para isso o processamento a
frio para beneficiar o óleo extraído, artesanalmente, da polpa do fruto.
Quer a Embrapa fortalecer a atividade dos agricultores e coletores de
pequi e gerar emprego e renda na região do Cariri”.
Cariri poderá ganhar sua primeira santa: a menina Benigna
O bispo de Crato, Dom Gilberto Pastana de Oliveira, já recebeu o livro “Positio”
encerrando a penúltima fase da beatificação da “Serva de Deus” Benigna
Cardoso da Silva, a menina Mártir de Castidade. Em outubro esse “Positio” será analisado pelo grupo de teólogos, da Congregação para a Causa dos Santos, que poderá declarar Benigna “Venerável”. Depois disso ela poderá ser proclamada “Beata”, última etapa que antecede a canonização.
Séculos atrás era mais fácil a Igreja Católica canonizar um “Santo”.
Hoje o processo é demorado e difícil. No século XIV a Santa Sé passou a
autorizar a prestação de culto, limitado a determinados lugares, a
alguns “Servos de Deus” cuja causa de canonização ainda estava em
andamento ou sequer tinha sido iniciada. Esta concessão, orientada para a
futura canonização, é a origem do que se denomina hoje de
“beatificação”. A partir do Papa Sisto IV (1483), os “Servos de Deus”
aos quais se prestava um culto limitado passaram a ser chamados de
“Beatos” ou “Bem-Aventurados”. Ficou assim estabelecida em caráter
definitivo a diferença entre os títulos de “Bem-Aventurado” – o servo de
Deus que foi beatificado – e “Santo”, o Beato que foi canonizado.
Parece um sonho! Mas a menina-mártir de Santana do Cariri, Benigna
Cardoso da Silva, poderá ser a primeira santa do Estado do Ceará.
História: Padre-mestre Ibiapina e suas passagens pelo Cariri
Embora nascido em Sobral, em 5 de agosto de 1806, o adolescente José
Antônio Pereira Ibiapina viveu – entre 1819 e 1823 – em Crato (onde
frequentou aulas de religião com o vigário José Manuel Felipe Gonçalves)
e na cidade de Jardim (onde estudou latim com o mestre Joaquim Teotônio
Sobreira de Melo). Depois de ordenado sacerdote ele voltaria outras
vezes ao Cariri, onde construiu as Casas de Caridade de Crato, Barbalha,
Missão Velha e Milagres, bem como a igreja, cemitério e um açude em
Jamacaru.
Na vida civil Ibiapina foi professor de Direito Natural na Faculdade de
Olinda; foi eleito Deputado Geral (hoje deputado federal) representando
o Ceará na Câmara Legislativa, no Rio de Janeiro; foi nomeado Juiz de
Direito e Chefe de Polícia da Comarca de Quixeramobim (CE). Exerceu a
advocacia em Recife. Abandonou tudo isso e, aos 47 anos, foi ordenado
Padre da Igreja Católica. A partir daí, percorreu o interior do Piauí,
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco levando o conforto,
através da palavra para o povo sofrido do sertão nordestino. Mas não só
isso. A cavalo ou a pé, sempre vestido com a batina, pregava nas
“missões”; paralelamente, construía igrejas, capelas, cacimbas, açudes,
cemitérios e hospitais. Chegou a construir mais de 20 Casas de Caridade
para moças órfãs e carentes.
Sobre ele, escreveu Gilberto Freyre: “ Ibiapina
foi realmente uma enorme força moral a serviço da Igreja e do Brasil.
[...] exemplos como o do padre Ibiapina – que, sozinho, fundou e
organizou vinte casas de caridade nos sertões do Nordeste – se impõem
aos brasileiros como grandes valores morais”. Faleceu no município
de Solânea, na Paraíba, em 19 de fevereiro de 1883. Sua causa de
beatificação corre na Congregação para a Causa dos Santos, do Vaticano.
Ao Padre Ibiapina se aplica com toda justeza as palavras do livro bíblico “Eclesiástico”: “Meu
filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e
no temor, e prepara a tua alma para a provação; humilha teu coração,
espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras da sabedoria; não
te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus;
dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro
momento tua vida se enriqueça”. (Eclo 2,1-3)
Quem desejar melhorar os seus conhecimentos, enriquecer-se de cultura e história, tem essa grande oportunidade. Caririensidade proporciona isso e muito mais. Parabéns.
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