Dr. José Bitu Moreno.
Éramos em oito filhos. Fui o quarto deles, nascido em casa, por parteira. Papai tinha uma loja de tecidos e de chapéus de feltro. Mamãe sempre teve uma paciência gigante e muita bondade no coração. O elemento dos dois era o homem, o homem e a vida de relações, o homem no coletivo, na comunidade: a amizade que valia mais que tudo, uma mão que lavava a outra, a palavra que selava um negócio, a fidelidade mesmo a um passado remoto, a hospitalidade como questão de honra...Coisas pouco usuais na vida de hoje.
Éramos em oito filhos. Fui o quarto deles, nascido em casa, por parteira. Papai tinha uma loja de tecidos e de chapéus de feltro. Mamãe sempre teve uma paciência gigante e muita bondade no coração. O elemento dos dois era o homem, o homem e a vida de relações, o homem no coletivo, na comunidade: a amizade que valia mais que tudo, uma mão que lavava a outra, a palavra que selava um negócio, a fidelidade mesmo a um passado remoto, a hospitalidade como questão de honra...Coisas pouco usuais na vida de hoje.
Meus pais eram filhos de famílias tradicionais da região, na maioria pequenos agricultores, pecuaristas ou comerciantes, que cultivavam arroz, milho, algodão e criavam gado.
Houve no passado muito casamento eugênico, de modo que no tempo em que fui criança, toda a cidade parecia ser a minha própria casa, de tantos parentes. Era comum a descoberta casual de um parentesco entre pessoas que acabavam de se conhecer.
Nós fomos e somos grandes irmãos, até por necessidade, creio. De forma que um foi modelo para o outro, como em tantas outras grandes famílias da época, partilhando dos mesmos princípios morais e, no nosso caso, de uma desconcertante ingenuidade ao tratarmos de negócios.
Um herdou do outro o uniforme da escola e os livros. O guarda-roupa era coletivo (calças, camisas, meias e cuecas), até a idade em que cada pôde comprar a sua própria roupa, mas mesmo assim a barreira do privado foi sempre ultrapassada. Não nos acostumamos a festas em casa, por razões econômicas em parte, nem de Natal, sequer de aniversários, nessa ocasião o aniversariante era apenas lembrado e cumprimentado, e mamãe fazia um bolo em homenagem.
Os filhos homens começaram cedo, à partir dos 10 ou 12 anos, a ajudar o pai no comércio. Como éramos uma escadinha, com diferença de idade de no máximo 3 anos, sempre houve algum ajudando, na maior parte das vezes dois, em alguns momentos até quatro, nos dias de comércio mais intenso. E levando os estudos paralelamente ao trabalho, sete de nós nos formamos, com exceção do caçula, que já fazendo faculdade, decidiu abandoná-la. E essa foi uma história igual à de muitos brasileiros com diferença apenas de hora, intensidade e lugar, mas de significado e qualidade correspondentes.
Nas cantigas de roda éramos os pares, nos teatros de brincadeira formávamos o elenco, nosso ônibus de cadeiras estava sempre cheio, nosso quarto era repleto de redes, saíamos juntos, descobrimos muito juntos, formávamos um time no futebol, nas festas, no trabalho e na vida.
E quando falo em irmãos, incluo ainda os primos que moravam próximo e eram muitos. As nossas casas se confundiam, tios eram também pais, primos eram irmãos, além de companheiros na escola, nas presepadas, e na vida. Cada pedaço do que hoje nos tornamos, tem as digitais dessas tantas mãos.
Prezado Dr. Jose Bitu.
ResponderExcluirDiante do que li me calo. Faltam-me palavras e competencia para empreender um argumento mais digno e tão belo. Porem, permita-me parabenizar os seus pais pelos caminhos indicados, vocês pelos caminhos seguidos, e, a familia por servir de grande exemplo para humanidade.
Parabens e recebam o mais sincero abraço.
A. Morais
Orgulho-me em dizer que faço parte dessa família. A loja de Edivar Moreno era um patrimônio de todos nós, meu pai comprava as nossas roupas e pagava com a safra do algodão. Cidadão honesto, homem de caráter moral, que investiu nos filhos a educação e hoje são exemplo de cidadania, honestidade, fraternidade, humanidade e tudo que se possa imaginar de bom nesta terra.
ResponderExcluirMeus pais tinham uma afinidade a todos, Ilca, Edivar e filhos. Exemplo de um casal que se completavam muito bem e que durante sua estada em Várzea-Alegre constituíram amizades e contribuíram para o desenvolvimento social prestando ajuda aqueles mais necessitados.
Aproveito para mandar um forte abraço a todos e desejar um feliz natal e um ano novo com muitas realizações. São os votos sinceros do seu primo irmão que tanto admira a todos.
Dr. José Bitu,se existiu uma amizade cristâ aqui na terra, foi entre o seu pai e o meu.Quando papai se encontrava triste,deprimido com o comércio oscilando de bom para ruim,ele corria pra perto do seu pai,ali,ele recebia uma força espiritual pra suportar aquela tristeza que invadia a sua alma.A loja do seu pai não era só um comércio, era tambem um ponto de apoio dos amigos de seu pai,ali todos se abasteciam de esperanças e coragem pra enfrentar os obstáculos da vida.Um verdadeiro orientador,psicólogo nato que entendia decifrar os rumos da vida.Hoje sou médico agradeço muito o incentivo por parte do seu pai.Quando eu queria desistir do vestibular de medicina,ele vinha com aquela mansidão com palavras fortes que me convencia a prosseguir o meu desejo.A sua família reflete em nossos corações tudo aquilo que foi seu pai,Edward e Ilka moreno.Nem Augusto Cury, em dia de inspiração, saberia definir em palavras de carinho essa "Familia éramos em oito filhos".Em nome do meu pai agradeço o apoio que nós tivemos do saudoso Edward Batista Moreno.Um abraço do parente e colega,Norberto Batista Rolim.
ResponderExcluirBelíssima crônica. Descreve com clareza a formação das famílias varzealegrenses. Parabens...
ResponderExcluirMorais,
ResponderExcluirQue palavras belas e carinhosas vc me escreveu. Que consideração boa e fraterna vc tem pela nossa família. Esse nosso mundo criado aí, tem de ser preservado,essa amizadade gratuita, essa irmandade, esse dar as mãos, essa valorização pura do homem. Vamos sempre zelar por isso,meu amigo e irmão.
Um grande abraço, Jose Bitu
João, meu primo e irmão
ResponderExcluirDas suas palavras faço as mesmas com relação ao saudoso "Padrinho", à nossa "única" e querida Cotinha,e a vc e seus irmãos, que na verdade também são meus irmãos, de sangue e de coração.
Meu caro irmão, estamos juntos nessa luta aqui na terra!
Um grande e saudoso abraço, Jose Bitu
Caro Norberto,
ResponderExcluirAo ler o que escreveu me emocionei, as lágrimas escorreram...Falar do meu pai, da minha mãe, dos parentes, dos amigos, dessa vida de relação fraterna e amiga que eles criaram, desse tempo em que a cidade toda era uma casa só, que o pó de café era passado de um muro ao outro, em que as pessoas tinham valor humano, respeito, dignidade, mesmo o mais modesto em termos econômicos...Falar desse tempo, falar dos meus pais, como vc falou, falar da grande família de Várzea-Alegre da época dos nossos pais...Quanta saudade dá! Quanta saudade!
Muito obrigado,
Um grande e caloroso abraço,
Do primo,
José Bitu Moreno
Dr.José Bitu,em uma tarde tristonha papai um pouco macambúzio sentado debaixo do pé de Ficus da tua casa,o teu pai chegou e falou:Jocel,o que está havendo,você calado,ele respondeu,o dia quando vai escurecendo me dar uma PRECONDIA,e foi embora.Teu pai falava muito e ria dessa passagem.
ResponderExcluirZé Bitu,
ResponderExcluirVocê conseguiu nos transportar para uma época diferente de hoje. A solidariedade, a dignidade e a amizade sintetizavam os valores humanos. Lembro-me de dona Ilca nos ajudando a tomar banho no banheiro de sua casa, em volta de uma bacia, que colhia água do chuveiro, enquanto dançáva-mos em volta deste recipiente de alumínio simulando uma dança
indígena. "Velhos tempos que não voltam mais!"
Um forte abraço.
Dr. José Bitu,
ResponderExcluirNão precisa conhecer Várzea Alegre, nem as pessoas e famílias que aí moram, para sentir a beleza da sua crônica que emociona tanto quanto envolve a gente.
Foi um relato lindo sobre pessoas honradas e distintas. Exemplos para a família e para quem pode desfrutar dessa história de vida.
Parabéns.
Abraço,
Claude
Cara Claude
ResponderExcluirLer essas palavras de uma poeta com tamanha sensibilidade e talento como você é uma estímulo nessa nossa dura tarefa de resgatar um pouco da nossa vida e da nossa história.
Com um grande abraço,
José Bitu
Dr. Bitu.
ResponderExcluirSua História é muito semelhante
com a nossa. Na luta e na determinação.
Com seu pai Edvard, eu aprendí muita coisa, quando batia um papo
todas os dias, durantes três anos.
Pelo parentesco, a minha primeira filha ganhou o nome de Ilka.
Lendo as sua crônicas, eu fico sem jeito para escrever, porque estou longe de fazer a mesma coisa.
Abraço de Jatí.
Mundim.
Mundim,
ResponderExcluirNossas famílias sempre tiveram uma grande afinidade e amizade. Crescemos juntos, brincamos juntos. A sua mãe foi uma santa, ainda hoje para mim um modelo de bondade, de trabalho, de inteligência e de mãe. Tantas vezes fui quando criança em sua casa e fui acolhido por tão bondosa senhora. Seus filhos saíram todos inteligentes, como ela. Inclusive você,que não canso de ler e de aprender. Cada vez que você escreve mais um pouco da minha infância vem à luz das lembranças.
Grande abraço,
Jose Bitu
Dr. José Bitu Moreno.
ResponderExcluirEstou tomando conhecimento de um pedaço de uma história que também é minha. Várzea Alegre é uma grande familia. Icó foi onde fui levado pelo viés do destino. Mas Várzea Alegre é isso que Dr. José Bitu descreveu tão brilhantemente. É a terra da minha família, da nossa família, da familia varzealegrense. E foi lá no Sítio Araçás onde enterram meu umbigo. No próximo dia 18 estarei viajando em direção à nossa Várzea! Vou de ônibus para ir me habituando com a paisagem, que não sei se linda, mas de muitíssimo significado para mim. Dr. José Bitu, aconselho que ajunte mais alguns textos e teremos um belo romance ambientado em nossa terra. Em seu texto eu ví meu pai, Zé de Emília, boêmio, adentrando a loja do seu pai para comprar um lindo chapéu de feltro para enfeitar suas noites de serenos e serenatas!
Parabéns!
Zé Bitu, comento em nome de Zezê que foi sua colega em Várzea Alegre. Ela se emocionou com a foto e pediu para eu te perguntar: " Quem está no braço de sua mãe e onde vc está na foto." Aguardo.
ResponderExcluirOla prima Fafa,
ResponderExcluirNo colo esta o Fernando. Eu estou entre as duas mulheres, Ilka e Vanja. Beijos na Zeze.
Com carinho,
Jose Bitu
Caro Francisco Goncalves,
ResponderExcluirEstou seguindo o seu conselho e devo escrever um livro sobre essas lembrancas de Varzea-Alegre e da nossa infancia. Imagino o seu pai com um belo chapeu de feltro, varando as noites da nossa cidade, derramando poesia e romantismo.
Bela imagem literaria.
Grande abraco,
Jose Bitu
Conheço seu estilo de escrever desde seu doutorado na Alemanha. Ilca, sua mãe, se orgulha de nossa amizade. Ela sempre liga prá cá, conversa com Zezê.Acho muito importante a amizade delas duas.Agora eu sei onde você está na foto, na verdade, conhecer mesmo eu conheço Ilca Rosane, Vanja, Robson e Márcia. Minha conversa com você foi sempre virtual. Aceitei o convite de Morais para ser colaboradora porque acho esse elo de comunicação dos varzealegrenses muito importante principalmente para quem anda pouco lá e não quer perder o contato com os parentes e amigos. Pois é, Primo José Bitu, estou sempre por aqui. ZZ envia uma abraço com carinho
ResponderExcluirFafá Bitu
Depois de quase dez anos de editado, o artigo em si e os comentários dos amigos fazem termos cada vez mais paixão por essa nossa querida Várzea Alegre.
ResponderExcluirAtravés de vagas lembranças dos personagens citados, tenho o sentimento de que esse é um pedaço de uma história que também é minha de de minha família, que ainda convive no belo Sítio Sanharol naquele município, onde sempre estou voltando. Graças a Deus.