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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

421- Preciosidades antigas de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais.


HISTÓRIAS DE TRANCOSO - Dedico a Antônio Morais e a Mundin do Vale

Era uma vez... Uma cidade chamada Várzea Alegre, que sempre se destacou no cenário cultural pela sua oralidade, ou seja, pela capacidade que o seu povo tem de contar histórias pitorescas e circunstanciais através das gerações. Com o aparecimento do contato virtual essa capacidade artística tornou-se mais descritiva e literária oferecendo às pessoas uma informação mais rápida e universalizada. Que maravilha...

Era uma vez... Um saudoso motorista de caminhão de verve humorística, chamado Zé Felipe, que divulgou as nossas histórias pelo Brasil afora e que se tornou o nosso representante maior nessa prática rotineira da nossa gente. Com o advento da imprensa, fomos representados, em 1933, por Pedro Tenente, o qual ditou dois livros abordando temas orais e que ainda hoje os utilizamos em nossas pesquisas históricas. Quanta ousadia...

Era uma vez... Uma infinidade de ferramentas eletrônicas, que fizeram surgir vários nomes, os quais transformaram a nossa tradição oral em prática virtual. Desses, podemos citar representando os demais, o Escritor e Historiador Antônio Alves de Morais e o Poeta e Contador de Casos Mundin do Vale. Duas figuras impolutas...

Era uma vez... Uma menininha que teve paralisia infantil e que, em hipótese alguma, podia se locomover. Então, uma fada rainha falou, que se ela se submetesse a uma cirurgia ortopédica e começasse a andar de bicicleta poderia reabilitar-se e ter uma vida saudável. E assim ela o fez aos doze anos de idade. E é eternamente feliz...

Era uma vez... Um menino com medo do escuro, que o seu pai, para encorajá-lo, mandava-lhe ao roçado, já à noite, levar os animais de montaria para o pasto. Certa vez, ele viu um padre sem cabeça carregando uma lamparina em uma das mãos...

Era uma vez... Uma moça imigrante, que casou com um rapaz de outra terra, a qual teve dois filhos. Na terceira gravidez, desentendeu-se com o marido por causa da irmã, que mantinha um caso amoroso com ele. Em 1926, Maria é assassinada por Bil, que foge para longe. O assassino aparece às Sextas-Feiras, Treze, em forma de lobisomem e a mártir faz milagres protegendo as mulheres sofredoras...

Era uma vez... Uma história chamada de trancoso ou do tempo da carochinha. Seus ditos eram retirados de histórias populares, fantasiosas, mentirosas e de assombrações, que habitavam o imaginário popular e que foram repassadas, através das gerações, por nossas bisavós, avós, mães e babás. O homem, mais dedicado ao trabalho fora do lar, era menos influente...

Era uma vez... Um escritor português, nascido e vivido no século XVI, chamado Gonçalo Fernandes Trancoso, que ao escrever Contos e Histórias de Proveito e Exemplo, deu ao mundo um desejo irresistível de valorizar o cotidiano e o simples. Foi contemporâneo de Cervantes, Montaigne, Shakespeare, Erasmo e Camões e era conhecido como um zeloso moralista e um religioso praticante. Teve por base a cultura popular, inseriu o conto português na grande corrente européia e foi possuidor de um estilo agradável marcado pela tradição oral. Que nem nós...

Porém, desta vez... Comparar Mundin do Vale e Antônio Morais ao genial Gonçalo Fernandes Trancoso é um fato real, pois os três são possuidores da mesma versatilidade. A capacidade de extrair pérolas do nosso cotidiano, transformando-as em estruturas virtuais instantâneas, foi o ponto decisivo para o surgimento dessa verdadeira analogia. Quanta alegria...

E, desta vez... A História não é de Trancoso.

Dr. Sávio Pinheiro.


29 comentários:

  1. Dr. Savio.

    Parabens.

    Este seu texto agente lê e lê novamente e não se cansa de lê. Agradeço a referencia a mim e ao Mundim do Vale visto que o Mundim viajou a Jati e não deu mais noticias fato que levou o João Pedro a achar que a onça do Raimundo Alves pode ter passado por lá.
    Bem o seu texto enobrece o Blog com tamanha grandeza que não sei descrever. Dependendo do desempenho dos poetas posso até me encorajar a escrever alguma coisa em verso.
    Muito obrigado e um forte abraço.

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  2. Um mote para os poetas, pesquisadores, historiadores, letristas, escritores e leitores desta página:

    De Trancoso a Raimundin
    Todo fuxico é real

    Eu nasci numa cidade
    Crendo em assombração,
    Em História de Dragão
    E nos ritos da maldade.
    Porém, com sagacidade
    Construí um ideal.
    Acreditei no Mobral
    E nos versos de Bidin
    De Trancoso a Raimundin
    Todo fuxico é real

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  3. Um texto maravihoso sobre o costume da nossa gente de contar histórias. Adoro as histórias de "trancoso" do blog do Sanharol, especialmente as contadas por Mundin, Morais, e do próprio Zé Savio.
    Abraços

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  4. Sávio você tem feito para contar e transmitir as histórias de trancoso, parecia que vi minha mãe ou meu pai contando esses coisas que pra mim eram assustadoras, depois meu irmão e eu queríamos dormir na mesma rede.
    Acho que alguém tem que repassar mais isto, pois são lembranças valiosas.
    Um forte abraço
    Íris Pereira

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  5. Dr. savio.

    O seu texto é tão belo que resolvi me expor. Me atrevi a fazer um verso.

    Ei-lo:

    Desde os tempos de menino
    Quando eu era bem traquino
    Já conhecia este mote
    O povo diz e não erra
    O fuxico em nossa terra
    Era com Frazo do Garrote
    Mas, a coisa mudou em fim
    E pra não causar nenhum mal
    De Trancoso a Raimundim
    Todo fuxico é real.

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  6. É, Sávio, realmente a História não é de Trancoso, verdade pura. Como bem disse Morais: a gente lê, se emociona e não se cansa ao ler novamente. Vc foi muito feliz ao fazer as referências e mais feliz ainda em dedicar a Mundim e Morais.Parabéns, poeta cordelista doutor!!!!!!!!!

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  7. Era uma vez um menino magro e pálido, que chegara na cidade, vindo de um sitio. Estudou com as dificuldades da época, mas conseguiu o canudo de medicina.
    Já formado teve uma simpatia pela
    política, mas viu que não era aquilo que queria.
    O que aquele garoto queria mesmo
    era escrever e salvar gente.
    Hoje aquele antigo Zé Poivinha
    se transformou em: Escritor, poeta,
    historiador e contador de causos.
    Dr. Sávio.
    Obrigado pela dedicatória e parabéns pela Sexta de Texto, que já tem um conteúdo tão importante
    Para Várzea Alegre que já podia ser chamada de baláio.

    Abraço.
    Mundim do jatí.

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  8. Sávio,
    São tantas as histórias de trancoso que a gente esquece as verídicas.
    Veja essa: era uma vez um menino que foi castigado pelo pai porque deixou de cumprir uma taarefa para brincar de "BIGURRILHO" com a tia....kkkkkkkkkkkkkkkk

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  9. Dr. Sávio,
    seu texto está demais e para não perder o desafio lá vai:


    Contei história de dia
    Com medo de assombração
    De dia era pura alegria
    De noite era danação
    Aticei muito a saudade
    Lá de minha cidade
    E nunca cheguei ao final
    Do que se diz num jornal
    Mas posso dizer assim
    De Trancoso a Raimundin
    Todo fuxico é real

    Abraço,

    Claude

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  10. minha avó contava história
    do seu tempo de criança
    e eu guardo na lembrança
    não me sai da memória
    e isso não é vanglória
    pois e escrevo e é natural
    mas ouvir é mais legal
    eu digo sem achar ruim
    de trancoso a Raimundim
    todo fuxico é real.

    são muitos bons os textos que você escreve pra essa sexta, precisamos nos encontrar novamente pra por os assuntos em dias abraços

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  11. Amigo Morais,

    A sua competência e dedicação a esta página recria a nossa história. Os nossos descendentes saberão reconhecer em você esta valiosa contribuição.

    Um abraço.

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  12. Flávio Cavalcante,

    Você é muito importante na nossa história contemporânea de "contação de causos". É um pioneiro. Se Trancoso vivesse em nossos dias estaria desempregado diante de tantos valores.

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  13. Íris,

    A transmissão oral de histórias mirabolantes produzia um contato mais direto e prazeroso entre as pessoas, daí serem mais humanos. Não podemos esquecer essa tradição tão importante para a nossa humanização. Agradeço o comentário.

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  14. Fafá Bitu,

    Tentei fazer como Trancoso fazia. Incrementar ficção e realidade. Você está nessa história, que me tranportou ao passado, como exemplo individual de persistência e coragem.

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  15. Raimundinho,

    Você enobrece o cancioneiro atual de Várzea Alegre com a sua facilidade em transpor o oral para o virtual. Mas, apesar da tecnologia, não podemos perder a prática fuxicativa local.

    Saudações.

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  16. Tia Fidera,

    No bigorrilho aprendi a não desobedecer mais ao meu pai. Foi um ensinamento da vida real. Um grande abraço.

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  17. Claude,

    Demais é você, que ataca em prosa e verso. Agradeço o desafio.

    Um mote para Mundin do Vale:

    Do erudito ao popular
    Claude mostra o seu talento.

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  18. Israel,

    Precisamos nos encontrar. Cadê você? Gostei do poema.

    Um abraço.

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  19. Dr.Savio,cheguei tarde mais ainda da tempo para enviar meu versinho.

    Quando li sexta de texto
    Comecei ficar vermelho
    Fui consultar o espelho
    Fazendo o meu pretexto
    Mas quando li o contexto
    Uma crônica especial
    Vi que eu não tinha sal
    Pra botar meu temperim
    De Trancosoa Raimudim
    Todo fuxico é real

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  20. Dr.Sávio,quantas crianças chuparam o dedo polegar ouvindo estórias de Trancoso,foi aí aonde surgiu a Ortodontia.Passar por debaixo do arco-iris pra mudar de sexo.Eita se fosse hoje a fila era grande...Rolim

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  21. Rolim,

    O lucro das histórias de Trancoso, além dos ortodontistas, beneficiavam também os pediatras, pois as diarréia apareciam com esse costume maluco. Um abraço.

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  22. Luiz Lisboa,

    Você chegou no Sexta de Textos e chegou pra ficar. Vi você nas fotos da Magnólia e conheço as suas histórias. Foi um prazer ler a sua poesia. Um abraço.

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  23. Amigo Luiz Lisboa
    Li a sua esplanação
    Vi que é um homem de ação
    E não é pessoa à toa.
    Não tem medo da patroa,
    Já que és marido leal.
    Porém, em véspera de natal
    Há histórias de Salin
    De Trancoso a Raimudin
    Todo fuxico é real.

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  24. Dr. Sávio.
    Por conta de comunicação estou
    atrazado com o sanharol.
    Na outra semana eu mando alguma coisa do mote da poetisa da Serra Verde.

    Minha avó sempre contava
    Naquele jeito bondoso
    As histórias de Trancoso
    Que eu muito apreciava.
    Quando ela terminava
    Preparava um ritual
    Partindo um bolo real
    Que o rei mandou pra mim.
    DE TRANCOSO A RAIMUNDIM
    TODO FUXICO É REAL.

    Eu falo de Lampião
    E falo de cangaceiro,
    De Antônio Conselheiro
    E Padim Ciço Romão.
    Falo de Frei Damião
    Sem precisar de aval,
    Falo também de Cabral
    No país tupininquim.
    DE TRANCOSO A RAIMUNDIM
    TODO FUXICO É REAL.

    Fuxico é coisa vulgar
    Quando ele é mentiroso,
    Cheja a ser crime culposo
    Se quem falou, não provar.
    Eu só faço pentear
    Se ele não for imoral,
    É mais do que natural
    Pentear só, tanto assim.
    DE TRANCOSO A RAIMUNDIM
    TODO FUXICO É REAL.

    Mais fuxico mesmo é no Chico, pergunte a Magnólia!

    Aqui eu tenho uma certa dificuldade de comunicação.
    Abraço.
    Do Vale.

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  25. Senti-me muito honrada em fazer parte da incrementação ficção/realidade. E muito feliz de ter feito vc voltar ao passado através da menininha que até os 18 anos só andava de bicicleta e caminhava com muita dificuldade. Sinto orgulho da coragem que tive para enfrentar aquela barra toda. Obrigada por ser personagem da sua história de Trancoso. Parabéns, poeta!

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  26. Magnólia, o Mundin do Vale tentou insinuar algo entre você, o Chico e o Fuxico. Você necesita se explicar, embaixadora. Agradeço o comentário.

    Um abraço.

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  27. Embaixadora Magnólia, quem é seu ajudante? Abraço,
    Fafá

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  28. Magnólia, vamos fazer um protesto porque seu ajudante lhe abandonou, topa? Quer dizer que o fuxico do xico é com Morais? kkkkkkkkkkkkkkk

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  29. Causos pitirescos e verdadeiros de Várzea Alegre.

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