Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 7 de novembro de 2023

255 - Preciosidades antigas de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais


Nos anos 60 as jovens se apresentavam assim : Com elegância e distinção - Fátima Holanda, Liane, Carla Menezes, Amelia Menezes, Corina Bitu e Iris Gláucia Rolim.

Seguimos os nossos destinos e paramos, de forma proposital, em volta do cacimbão que serve àquele mercado, encravado ali mesmo, no cruzamento das ruas Getúlio Vargas e Antônio Afonso. O papo com o senhor Antônio Vieira e Seu Lourival Clementino é obrigatório. Este é o pai do nosso poeta-maior José Clementino. A conversa é inevitável, pois ali os dois costumam lavar os seus veículos automotores e comerciais.

O primeiro, um caminhão para transporte de cargas e o segundo, um outro, adaptado, com duas cabines, para transporte de passageiros, conhecido como Misto. Mais alguns passos e nos vimos em frente ao café de João de Adélia, onde o aroma da sua tradicional e saborosa linguiça caseira, sua especialidade, era sentido à distância. Enquanto saboreávamos aquele delicioso prato ouvíamos uma música suave, totalmente ecológica, saindo do bico de uma ave inteligentíssima: o já famoso “Sofreu” de seu Natércio (pássaro de plumagem amarela e preta, chamado corrupião). Ouvimos o hino nacional e outras melodias. Resta-nos apenas, nesse fim de tarde, cortar os cabelos na barbearia de Vicente Cesáreo, tomar um delicioso banho no subterrâneo da barbearia e deliciar-se com as últimas novidades da cidade.

Enquanto cortávamos os nossos cabelos o seu Vicente contou-nos algumas histórias interessantes. Falou-nos que certa vez um senhor bastante gripado, com uma tosse cheia, muito produtiva perguntou-lhe se fazia mal barbear-se com aquele catarro todo, o que este prontamente respondeu: - Eu acho meio nojento... Porém, mal não faz, não!

Jantamos, exatamente, às cinco da tarde, um delicioso baião de dois com toucinho torrado com courinhos crocantes, pois não sabíamos que tal alimento era demasiadamente rico em colesterol e que o seu excesso na corrente sanguínea favoreceria a obstrução das artérias coronárias, podendo nos levar fatalmente a um Infarto Agudo do Miocárdio ou a uma Trombose Cerebral. Não imaginávamos até ali o real significado da expressão: Morrer de Repente! Pois bem, morrer de repente não significa deixar essa vida cantando viola e sim morrer subitamente, sem oportunidade de socorro.

Findo o jantar, realizado no café de seu Zé Pereira, famoso por servir as pessoas de melhor posse na cidade, podemos ainda ver na mesa ao lado, um casal de jovens que, sentara-se, juntamente com um senhor de meia idade, onde fizeram de imediato os seus pedidos. E aí ouvi a clássica assertiva do dono do estabelecimento comercial: “Café a Um, Sopa a Dois”.

O bate papo, no circuito farmácias de Antônio Caboclo, Seu Nelinho e José de Ginu, todas também situadas à rua Major Joaquim Alves, era obrigatório. A farmácia de seu Nelinho pertencera ao senhor José Carvalho, político importante da cidade, e a do senhor José de Ginu ao também político Hamilton Correia.
Ali ouvimos músicas na amplificadora do Cine Odeon, colocamos mensagens fonadas na voz do locutor recém-contratado, Hélio Teixeira: “Um alguém, com as iniciais R.N.S., de estatura mediana e olhos castanhos, para outro alguém, com as inicias M.S.B., que está de cabelos soltos e vestindo saia verde plissada”, oferece a música de Waldik Soriano “Quem eu Quero não me Quer”.

Ouvimos de amigos as últimas histórias de Pé Véi, as maluquices de Antônio do Virgem, o incendiário, e as trapalhadas do espertalhão de moletas Raimundo Anjo. Pé Véi, para quem não o conhece, é aquele que quando foi instigado porque não gostava de tomar banho, prontamente respondeu: - Às vezes, estou sentado na calçada da minha casa e vendo passar um enterro, pergunto. De que foi mesmo, que ele morreu? - Comeu uma carne fresca, depois tomou um banho...

Antônio do Virgem é aquele doente mental descompensado, que vez por outra utiliza o recurso de atear fogo em tudo que vê, achando ser essa a sua marca registrada e Raimundo Anjo é um deficiente físico, que vive no centro da cidade aprontando as suas peripécias com fins lucrativos.

Dr. Sávio Pinheiro.


11 comentários:

  1. Dr. Savio.

    Desta feita voce falou de quase tudo. Do Pé Veio me fez lembrar um dia que perguntaram: Pé Veio voce tem medo de morrer? Ele responde: nem um pingo. Eu tenho medo que Fatico morra, ele é quem me sustenta.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu ja não consigo, momentos gloriosos como este. As pessoas ja se foram, os locais ja não mais existem, e tudo esta mudado.

      Excluir
  2. Poivinha. Raimundo Anjo era irmão do repentista Zé Goçalves.
    Aquele incendiário que você falou, uma vez tentou botar fogo na lagoa de São Raimundo, Mas a lagoa era ruim de fogo.

    ResponderExcluir
  3. Zé Sávvio e Morais...

    Que bom ler sobre o cotidiano da nossa querida cidade, registrando fatos e pessoas que jã não encontramos mais pelas ruas. Mandem logo o restante...
    Forte abraço...

    ResponderExcluir
  4. Dr. José Sávio, a sua retrospectiva dos anos 60 foi muito oportuna onde nos fez lembrar um passado diferente da realidade de hoje. Sobre o cacimbão do meio da rua me faz lembrar umas tristes senas, pois era o trajeto do castigo dos presos que levava duas latas d’água sobre as mãos e por força de tudo ainda na chibata.
    A saudosa Maria de Seu Abel, que fica de frete a loja do senhor Luis Proto e quando a banda de música passa ela ficava imitando e dançando com sua bengala na boca como estivesse tocando. Valdimiro doido batendo em sua latinha de doce como se fosse um pandeiro, Fadaial apanhando ponta de cigarro no meio da rua, Costinha, conversando só e fazendo seus discursos, Jubaia carregando as borras dos cafés e derramando detrás da rua pelo beco de Hamilton, Barrão Setenta dando show de nome veio no meio da rua, Tunico Mudo cantando a Carolina foi por samba e muitas outras que me faltam na memória. Tempo bom que marcaram vidas, parabéns Dr. José Sávio por essa bela retrospectiva de uma memória sadia e prazerosa.

    ResponderExcluir
  5. Dr. Sávio, parabéns e obrigada pela oportunidade de nos fazer caminhar pelas ruas da cidade.

    Morais esqueceu de numerar parte I, II ...

    As histórias aqui contadas pelo autor, tem que ser como as de As Mil e Uma Noite, ou seja: Sem Fim... É as de Matozinho também!
    Vamos que vamos!

    ResponderExcluir
  6. Maria da Gloria.

    Esqueci de numerá, mas a ultima postagem da caminhada do Dr. Savio pelas ruas da historia de Varzea-Alegre será postada amanha. Já fizemos tres postagens com o tema, cada uma melhor que a outra. Obrigado pela observação.

    A.Morais

    ResponderExcluir
  7. Morais,

    O Pé Véi era uma figura realística. A sua vida não teria sentido sem a figura paternalista do Fatico. Este o satisfazia mentalmente e financeiramente. Que bom ter em quem confiar na vida!

    Raimundinho,

    Gosto da sua complementação, pois, no futuro, poderei melhorar o texto incluindo novas informaçãoes.
    Gostaria de saber a paternidade dos dois.

    Flávio,

    Esse pequeno passeio representa a famosa volta de reconhecimento dos grandes prêmios do automobilismo. É apenas para se fazer um paralelo com os nossos dias.

    João Bitu,

    Realmente, você conheceu bem aquela época. Um tempo de paz, sem grandes disputas e competições.

    Glória,

    Você relembrou bem a Sherazade. Se conseguirmos prender a atenção do rei, talvez consigamos escapar com vida desse mundo tão cheio de "Big Brothers".


    Um abraço a todos.

    ResponderExcluir
  8. As meninas bem mais recatadas, elegantes, distintas e muito, muito mais bonitas.

    ResponderExcluir
  9. Uma tetrospectiva que não tem GPS nem menu da culinária moderna. Mas retrata fielmente a geografia, os cadápios simples e os bons atendimentos e costumes dos cafés e restaurantes do centro de Várzea Alegre nas décadas de 1970/80.
    Um tio meu (Zé Nenên) tinha um café em frente ao cacimbão citado pelo cronista.

    ResponderExcluir
  10. O resumo da saudade que não volta mais. Dói.

    ResponderExcluir